05 fevereiro, 2017

Eutanásia

"Memoria Colectiva", by Alicia Valdivia, 2013.
Quando a memória se esvai, o que nos resta? 

Há tempos tive uma certeza e uma dúvida.
A certeza é que a memória, a minha, seria um longo rio com margens por vezes diluídas.
A dúvida, se seria eu ou não o mar onde a memória iria desaguar. E, então, afirmava que  mais gostaria que a memória desaguasse em quem, na altura, me lia. Chamei então à memória testemunho.
Não alterei muito o que então pensava, apenas reforcei a convicção de que a memória colectiva é um rio de caudal exíguo, tão estreito e magro, raro...
Quanto à minha memória, quando ela se tornar assim, exígua, magra, rara... desliguem-me a máquina.
Para quê tal existência?
Dêem-me um novelo de memória e eu me agarrarei à vida

5 comentários:

  1. Também quero morrer se, afinal, já nada tiver de viva a não um corpo inerte ou uma dor imensa e irreversível.

    Beijinhos, Rogério.

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  2. Li-te, li o texto de Saramago e nada mais me ocorre do que este continuado espanto de tão insistentemente nos espelharmos nos rios, de tão insistentemente nos sentirmos rios...

    Abraço.

    Maria João

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  3. Um belo quadro de Alicia Valdivia.

    Ainda não tenho opinião sobre o tema.

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  4. Li o seu texto, e o texto-homilia-poema do Saramago (que não conhecia e achei muito belo). Sobre eutanásia, a minha opinião é conhecida da família, mas não quero falar disso.
    Gosto muito do quadro.
    Abraço e uma boa semana

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  5. Abrir a porta ao direito de decidir é o que está em discussão. Sabemos pouco sobre a nossa própria resistência à dor e ao sofrimento. Sabemos lá o que mais desejaremos quando o rio for um fio tenso, doloroso, à espera de se quebrar. Abrir a porta ao direito de decidir... Se for elétrico o fio, podem cortar. A vida é bela!

    Lídia

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