23 fevereiro, 2015

Geração sentada, conversando na esplanada - 84 («Esta classe média é uma merda!»)

«O que é isso de bater numa miúda à frente dos amigos? E na televisão?
O que leva um fedelho de 20 anos, que mal segura as calças nos ilíacos, a dar uma tareia na namorada, com instintos de macho alfa, entesuado por exemplos domésticos, quiçá inocentes, permitidos socialmente através das televisões e comentários na internet?...»
Perguntava a Uva-Passa

A Teresa nem se levantou da mesa, inclinou a cadeira e toda inclinada debruçou-se sobre o meu ombro com o iPad estendido: "Foi você quem escreveu isto?" E eu li o que tinha escrito "Nem é amor, nem é violência/É inaptidão para a relação/É incompetência/Tudo começa na construção do edifício que eles são/Quem os constrói, quem?" respondi-lhe ter sido eu quem o escreveu e ela disparou-me que se eu tinha sido célere a colocar a pergunta é porque tinha alguma ideia da resposta. Ao principio não tinha percebido e confirmei:
- "Quer mesmo saber quem edifica a adolescência que bate na namorada?"
- "Isso mesmo!"
- "Sabe? A cultura dominante e os comportamentos são determinados pela classe média, e esta é uma merda!"
Indignada, menos pelo vernáculo usado mas pelo que considerava uma não resposta, lançou-me um "Como assim?" desafiador. Eu peguei-lhe no iPad com um "Posso?" e procurei o estudo que não há muito tinha lido. Procurei a página 113 e apontei-lhe o que ela devia ler e ela leu "A grande maioria
dos adolescentes (79,7%) refere não se ter magoado a si próprio
", donde mais de 20% atentam contra si mesmo, concluí. "E agora leia aqui na página 121", e ela leu "61% dos adolescentes não gosta ou é-lhes indiferente as aulas e 46,1% não gosta ou é-lhes indiferente os professores" de seguida apontei a página 157, e ela continuou a ler "48,4% sentem que o ambiente da escola tem problemas e 40,2% têm a percepção que isso acontece às vezes" e, para finalizar, li-lhe eu que apenas 11,3% dos alunos do 10º ano consideram que os conteúdos têm interesse, donde mais de 80% acham que a matéria é uma "seca". 
A Teresa olhou para mim, destroçada "Posso ficar com esse estudo guardado?"
"Claro! Tem aqui o link, mas, já agora um quadro que lhe vai ficar gravado, ora veja":


- "E isso, explica que um adolescente bata na namorada?"
- "Na verdade não sei, mas juntando tudo o que é referido no estudo, o que é que acha?"

5 comentários:

  1. Meu amigo Rogério.
    Fiz a minha Tese em Delinquência Juvenil. Uma crónicaq de uma pagina e meia não chegam nem para começar a explicar a causa, mas há tr~es grandes fatores de risco: Familia, Escola e Comunidade/Bairro.
    Dentro de cada uma destas há mais outras e dentro dessas outras, mil outras há ainda...
    Mas o amor dos pais, a atenção e a formação dos pais, ou a falta dela, já não explica tudo, e agora é tudo diferente como num ciclo... se eu pudesse escrever... escreveria sem fim... mas depois ninguém me lia.
    Adorei o verso. É um prazer tê-lo como leitor e uma honra ver aqui a Uva representada.

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  2. Uva Passa,

    quando lhe coloquei o comentário no seu post, nem eu próprio pensava que poderia haver um estudo para o esclarecer. No estudo, está lá tudo. Sua tese teria sido enriquecida se esta informação fosse mais conhecida. Assim como o site cujo endereço aqui deixo, com um beijo

    http://aventurasocial.com/publicacoes.php

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  3. A delinquência juvenil começa cada vez mais cedo... e as razões já não são as mesmas de há meia dúzia de anos atrás. Ela "rebenta " de famílias bem estruturadas, com pais atentos e economicamente estáveis.
    Então de onde vem o perigo? Da companhia de colegas e amigos com educações distorcidas, das televisões com concursos, uns degradantes e outros, que fazem sonhar demasiado cedo e muito depressa. Todos os jovens e crianças (vi-mo-lo ontem num concurso) querem cantar, ser famosos, ter tudo e sem trabalhar... Claro que, nem todos podem ter o que lhes oferecido de ânimo leve e depois...vem o descalabro. E quando se rola pela ribanceira abaixo...é difícil parar!
    Um abraço
    Graça

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  4. Tem razão quando diz que esse estudo devia ser mais conhecido, mas também sei que quase ninguém lê estudos ou teses sobre assuntos de interesse.
    A televisão só agrava esta situação.
    Guardei o link para ler com atenção.


    beijinho e boa semana

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  5. maltratar o/a namorado/a ou companheiro/a


    é transversal a todos as classes sociais e a todas as idades

    um abraço, Rogério

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