10 maio, 2012

Redacções do Rogérito - 9 (tema inspirado por José Machado Pais)

Tema da redacção: "Quando falo de autoridade, não falo de autoritarismo, mas de uma ordem capaz de ajudar a valorizar a liberdade como um bem essencial (...)" - José Machado Pais, no Público de hoje (não disponível on-line)
A minha mãezinha que é pessoa sabedora e muito carinhosa não me deixa pôr o pé em ramo verde mas faz tudo com muito jeitinho para eu aprender a ter juizinho e a fazer escolhas sozinho que não sejam escolhas tolas que é aquilo que mais acontece quando as mães deixam fazer tudo aquilo que a gente quer e no fim nem sabemos aprender a gostar nem a aproveitar coisas que não conhecemos e ficamos sempre a querer as mesmas e a ter birras grandes para as ter que até fazem os adultos tremer. 
Por exemplo - que é a exemplificar que é mais mais fácil explicar - quando minha mãe me punha comida no prato e eu torcia o nariz e dizia que aquilo não queria ela respondia "come o que te apetecer e o que não gostares pões à beira do prato" e isso acontecia com uma mão cheia de coisas que já não lembro bem mas há uma que eu ainda recordo e que é o pimento vermelho que agora até adoro. Sempre me servia pimento vermelho e sempre eu dizia não gostar e ela sempre respondia com a mesma resposta que a gente põe à beira do prato quando não gosta. Até que um dia no fim da refeição ela teve um desabafo sem nenhum ar de estar a desabafar quando disse como se estivesse a falar com outra pessoa que este rapaz que era eu era um niquento. Dias depois a mesma cena e eu lembrando que me tinha chamado niquento provei um pimento e me soube tão bem que até pedi mais à minha mãe que fez aquela carinha bonita e exclamou que o pimento não me iria furar a tripa. E não furou pois ainda aqui estou e com pena de ver todos os dias autoritariamente esconderem pimentos vermelhos e os portugueses a ficarem cada dia mais niquentos mas com falta - ignorada - de tais pimentos.
Rogérito, à memória de minha mãe

13 comentários:

  1. Ó Rogérito
    Li como é habitual uma das tuas excelentes redacções como também é habitual. Pus-me a pensar nas tuas metáforas (também habituais) e essa coisa do pimento vermelho (se fosses benfiquista dizias encarnado)e como de horticultura não sou lá muito entendido, fui à procura e encontrei isto:

    "Pimentões vermelhos são simplesmente os verdes que amadureceram. Os que colhidos ainda verdes não ficam vermelhos, pois amadurecem somente no pé. Como os pimentões ficam mais doces com a maturação, os vermelhos são mais doces.
    Novas variedades foram desenvolvidas por melhoramento genético. Hoje há no mercado um predomínio de pimentões híbridos, de cores e formatos variados, com maior resistência a doenças, maior produtividade, precocidade e uniformidade nos frutos. Mesmo entre os verdes e os vermelhos, muitos são híbridos. Os de cor e estilo diferentes são cultivados em estufas e têm alto preço. É o caso dos amarelos, verdes-limão, creme, chocolate, roxos e laranja, entre outros".
    Aqui: http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20090125062011AAB53Uv

    ResponderEliminar
  2. Numa boa "muqueca" meto esses pimentos todos...

    Recomendo uma segunda leitura e pode substituir o pimento por outro qualquer... alimento ou condimento... Vai ver que retira a carga politica sem perder o valor inicial que lhe quis dar.

    Aproveite também para ler o artigo de quem me inspirou.

    ResponderEliminar
  3. Uma redação a preceito, como ainda hoje a rapaziada podia escrever, só que não me parecem para aí virados, agora até já se escreve só com kkkkk

    É verdade, há dias li um texto só com kkk, não sei se pela forma como eles são dispostos em mancha gráfica isso terá algum significado, às tantas já inventaram algum código e eu ainda ando a ver se lobrigo algum comboio a passar aqui na linha do Oeste, a antiga linha, que ainda viajei todo enfarruscado com o pó do carvão a arder para fazer vapor.

    Bem, o k já era utilizado bastante nas primeiras comunicações digitais dos radioamadores, anos 80, mas agora esta coisa baralha-me, não sei se será necessário tentar perceber antes que passe de moda.
    Quanto às questões da autoridade e autoritarismo e quejandos fiquei logo com os neurónios à procura de informação armazenada já com 40 e tal anos, então não é que fiquei 3 semanas privado de sair do quartel por causa duma intrigacezita desse calibre?

    Ora bem, mas a ideia era propor-se a esta malta nova que vejam se se põem a pensar um pouco mais na vida, que vão ter que ser eles a descalçar a bota em que o homem se tem andado a meter.

    Pois sim, a revolução está em curso, silenciosamente, mas está, não sei é se alguém ainda tem algo de pedagógico e de capacidade de liderar com autoridade sem autoritarismo, hummm

    ResponderEliminar
  4. elas ( as mães) bem sabem o que não se aprende nos livros...

    ResponderEliminar
  5. Mães especiais com recordações especiais. Lindo o relato e a lição.
    Um grande bj Rogério.

    ResponderEliminar
  6. Adoro as suas redacções.

    Se calhar é por ainda escrever com «cç» que elas me sugerem outras leituras.

    beijo

    ResponderEliminar
  7. Pimentos à parte. A tua Mãe aprendeu pelo mesmo livro do que a minha.
    E que bem que ambas aprenderam!...
    :)

    ResponderEliminar
  8. O Rogérito é uma criatura digna cheia de ideias muito acertadas!

    Edição cuidadosa e muito interessante.

    (Pimentos é comigo...)


    bj

    ResponderEliminar
  9. "niquento(a)"... Não me é estranho como não me é estranho o "põe na beira do prato".
    As mães "antigas" eram diferentes, as famílias eram diferentes. Tudo era diferente!
    A autoridade dos pais, (é dessa que aqui se fala) é indissociável do acto de educar mas hoje os jovens, sabem tirar partido do estado de "esgotamento" dos pais que não têm tempo para os filhos.
    Recordo-me de um dia ter ouvido numa reunião, um pai muito cheio de razão dizer que não podia estar sempre a contrariar o filho, pois só estava com ele duas horas por dia: "não vou estar sempre a ralhar-lhe.Se o que ele mais gosta é de jogar no computador, deixo-o jogar, é a maneira de o ver sossegado".
    Recomendava-se que os pais controlassem o tempo gasto pelas crianças (8/9anos) em jogos no computador...

    L.B.

    ResponderEliminar
  10. Era assim mesmo, sim senhor! "Não gostas? Põe à beira do prato!" ... Eu não gostava de feijoada, mas também acabei por gostar. Agora de pimentos nunca gostei e continuo a não gostar... Se calhar, se fosse filha da sua Mãe, talvez já gostasse...

    ResponderEliminar
  11. Olá meu amgio. Bela homenagem. Confesso que tive que buscar o significado de niqueto no dicionário. AH, agora entendi rss.

    Abs,

    ResponderEliminar
  12. Rogério,

    Embora ande muito cansada e ande menos pela net estes dias, adorei o que li, as metáforas que elevam o texto e a conclusão final.

    Deixo beijos
    Branca

    ResponderEliminar
  13. Pois, não gostas põe na beira do prato, mas nós aqui em casa se não comêssemos ficávamos com fome...
    Logo a seguir fechava-se a tasca e até à ceia não havia mais nada...

    Politicamente é possível ter tempo para ouvir, falar e brincar com os nossos meninos. Se hoje não lhes dermos o nosso tempo perdemos definitivamente a viagem com eles.
    Autoridade será esse crescimento diário, chamar a atenção de tantas escolhas, mas deixar que cada um assuma pelo que fez ou escolheu e retire as conclusões óbvias.

    Tantas escolhas que outros fazem e que nos prejudicam a todos. Mesmo pondo para o lado (...),sofremos.

    ResponderEliminar